2019 – Tilo – Livro Glorious Black S1: Sobre Satura

Satura
Glorious Black
Orkus! Magazine 2019
Por: Claudia Zinn-Zinnenburg
Tradução: Yasmin Amarante

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Uma mulher nua paira sobre centenas de velas em um edifício sagrado. O que aconteceu com nosso arlequim? Timidamente, ele se encontra na contracapa do álbum e acende outra vela. O violino da solidão continua na faixa-título Satura. Parece um resumo da vida e obra do Lacrimosa até agora. Liricamente e particularmente maduro, a escuridão depressiva é deixada para trás. Continua melancólico, trágico, mas também leve, com isso se estendendo a todos os álbuns da banda até agora. As risadas das crianças introduzem Erinnerung, que é determinada por uma guitarra agressiva e com Tilo Wolff em sua melhor forma. Como uma sensual canção de amor, Crucifixio se apresenta como uma paixão religiosa. Rica em metáforas com um toque sombrio de erotismo, Versuchung é musicalmente multifacetada. Determinado por suaves sons de piano, Tilo Wolff direciona seu olhar para dentro de sua alma e o expressa em Das Schweigen. Que tipo de mundo é este onde o sangue corre livremente e os olhos se fecham? Atmosférico e como sempre emocional, Satura termina com a maravilhosa Flamme Im Wind. A chama enfim se apaga? Não enquanto houver saudade do sol, da luz e da vida…

“… a primeira composição que me levou ao limite…”

Orkus: Mais um ano depois, em 1993, você lançou o trabalho Satura. Há uma mulher nua na capa do álbum em uma catedral. Como surgiu a ideia para a capa?

Tilo Wolff: Como um cristão, para mim, as igrejas são muito mais do que edifícios históricos ou obras de arte arquitetônicas, mesmo que esses aspectos também despertem em mim um grande entusiasmo por edifícios religiosos. Além disso, nas igrejas, infelizmente, outras coisas além da fé são o foco com muita frequência, e ainda assim o corpo humano, como Deus o criou, tem em si algo sagrado. Depende muito das associações com que se encara a representação de uma pessoa, um objeto ou o símbolo de um ensinamento, como a fé cristã. Portanto, há muitos níveis diferentes para olhar e interpretar esta capa.

O: A música Crucifixio também é particularmente marcante. Uma verdadeira canção de amor, não é?

TW: Muitas pessoas se perguntam o que é realmente o amor. Ao fazer isso, muitas vezes esquecemos de distinguir entre o amor romântico, as muitas outras formas de amor e, em última análise, o amor genuíno, pois ele é um estado! Um estado no qual se pode entrar, com o qual se estabelece uma conexão. Essa conexão começa com você mesmo. Este é o primeiro passo. Primeiro você tem que se conectar consigo mesmo, aprender a se aceitar e se amar. Dessa forma, consciente ou inconscientemente, entra-se em conexão com Deus, pois Deus é a origem daquele estado emocional que chamamos de amor. Depois de fazermos essa primeira conexão, a transcendência do amor pode conduzir à capacidade de amar outras pessoas, ideias, objetos ou atividades. Mas voltando à sua pergunta: não, Crucifixio é mais uma canção de devoção.

O: Qual música do Satura exigiu mais dedicação para compor?

TW: A própria música-título Satura. Acho que foi a primeira composição que me levou ao limite tanto emocional quanto musical. Naquela época coloquei tudo de mim nessa música e é por isso que a vejo como um passo marcante na minha trajetória musical e pessoal.

O: E você tem uma música neste álbum que se destaca em particular?

TW: Novamente, isso depende muito do meu humor e sempre depende de onde está o meu foco enquanto ouço. É a melodia? A letra? A produção? Você pode dissecar uma música em níveis incontáveis e então ter sentimentos e pensamentos positivos ou negativos sobre ela. Mas com certeza Das Schweigen é uma obra atemporal que sempre, e sem exceção, me arrepia.