2003 – Tilo – Roadie Crew

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      Lacrimosa
      Os silenciosos ecos de um Requiem

      Entrevista realizada com Tilo Wolff sobre o lançamento de Echos.
      Por Ricardo Campos em 2003 para a revista Roadie Crew.

      Em 1990, aos 17 anos de idade, o músico alemão Tilo Wolff (que tem foco principal no vocal e composições) resolveu que deveria dar mais vida aos seus poemas e histórias, e o fez através da música. Assim foi formado o Lacrimosa, que teve como primeiros passos os álbuns Angst (1991), Einsamkeit (1992) e Satura (1993). Em 1994, Tilo conheceu a finlandesa Anne Nurmi, que deixou a banda Two Witches para enriquecer mais ainda a sonoridade do Lacrimosa, que cada vez mais se desenvolvia numa grande mistura musical, com ênfase na Música Clássica e Gótica, com os álbuns Inferno (1995), Stille (1997), Live (1998), Elodia (1999) e Fassade (2001). Finalmente em 2003 os fãs são presenteados com mais uma obra prima, Echos, que representa toda a emoção da música do Lacrimosa através de uma diversidade de instrumentos, emoções, inspirações e as inconfundíveis vozes de Tilo e Anne. Finalmente pelas palavras de Tilo Wolff, conheça detalhes deste novo trabalho e curiosidades sobre o passado desta banda que, independente do grau de atração que cause no ouvinte, é singular na história da música. Para esclarecimento do leitor, a palavra Requiem (oriunda do Latim, que significa repouso, descanso), muito usada na entrevista, é a parte que inicia o ofício dos mortos, na liturgia católica, que já fora musicado por grandes compositores, como Wolfgang Amadeus Mozart e Giuseppe Verdi, e tais obras são conhecidas como Requiem. Inclusive, Lacrimosa, que deu origem ao nome da banda, é parte integrante de um Requiem.

      Roadie Crew: Em 2001 vocês lançaram o excelente Fassade. Como foi a repercussão mundial para o álbum?
      Tilo: Foi muito boa, pois Fassade é um álbum complexo e possui um tema bem difícil. Mesmo assim, correu tudo muito bem. Fico muito feliz que hoje em dia as pessoas querem, e procuram, ouvir algo mais complicado e diferente.

      Roadie Crew: O Elodia atingiu a 12ª posição nas paradas alemãs, enquanto o Fassade conseguiu a 20ª posição. O Elodia ainda é o álbum mais bem sucedido do Lacrimosa?
      Tilo: De fato o álbum mais vendido mundialmente continua sendo o Elodia, mas ele foi lançado há mais tempo que o Fassade. Não sei se daqui há alguns anos ele conseguirá ultrapassar o Elodia ou não, mas é muito interessante ver que todos os nossos álbuns estão obtendo altas vendagens em todo o mundo. Isso indica que as pessoas que ouvem o Lacrimosa, e gostam, procuram por tudo que já lançamos. Querem ter toda a coleção!

      Roadie Crew: Quais as suas expectativas para o novo trabalho Echos, em relação ao Elodia?
      Tilo: Novamente posso dizer que temos um álbum difícil, único em seu gênero, que causa um grande impacto emocional – não tanto quanto o Elodia. Mas posso dizer que Echos é um álbum bem pessoal, e para mim é o melhor que fizemos até hoje. Espero que as pessoas também gostem e ele seja tão bem sucedido quanto o Elodia ou Fassade.

      Roadie Crew: Como funcionou o processo de composição do Echos? Você criou sozinho todos os arranjos para orquestra e coro?
      Tilo: Sim, eu sempre crio todos os arranjos. Não seria nem possível que outra pessoa os fizesse, pois quando estou compondo as músicas já crio simultaneamente os arranjos, já preparo tudo. Se outra pessoa compusesse uma linha de guitarra ou orquestra não seria mais a mesma composição. Componho todos os instrumentos das músicas e não quero que ninguém adicione mais nada a eles.

      Roadie Crew: Vocês sempre trabalham com grandes orquestras, como a Orquestra Sinfônica de Londres, por exemplo. Qual ou mais orquestras vocês escolheram para trabalhar nas gravações de Echos?
      Tilo: Usamos a Deutsches Fimorchester Babelsberg, que é uma orquestra alemã dedicada a músicas de filmes, e a Spielmann-Schnyder Philharmonie. Também convidamos músicos de orquestras que trabalhamos anteriormente para o estúdio e gravamos um por um, para terem um contato bem próximo com o que iriam tocar e como fariam isso. Eles receberam as partituras que tocariam e puderam colocar a alma, os sentimentos na música. Esse foi um bom processo de trabalho para estabelecer um contato bem próximo com cada músico, pois conversamos sobre as linhas mais importantes de cada música e a emoção, o sentimento que eles mostraram e trouxeram, enriqueceu muito o trabalho.

      Roadie Crew: Apesar de manter o padrão preto e branco, a ilustração da capa de Echos é um pouco diferente das anteriores, pois não é tão melancólica e apresenta uma quantidade maior de movimento. Fale-nos a respeito da ideia principal da ilustração e a relação entre aquela paisagem do navio com o título “Echos”.
      Tilo: O Echos, antes de qualquer coisa, descreve algum tipo de movimento. É uma viagem no tempo e o movimento das emoções nessa viagem. Consideramos que somos um produto da cultura de onde nascemos, da família que somos provenientes e do nosso país de origem. Além disso, somos também um produto das coisas que fizemos do decorrer de nossa vida, que nos transformou no que somos hoje. São ecos do passado em nosso presente que nos levam de volta às decisões que tomamos para a nossa vida futura, logo tudo está conectado. Isto também está descrito na capa do álbum, pois retrata a época quando começaram muitas das influências musicais presentes neste álbum: a Renascença e a Barroca. Então usamos uma invenção humana muito importante para a época, o navio, que era a única alternativa usada para o descobrimento de novas terras e contatos comerciais com outros países. Isso indica que apesar de não ter sido inventado naquela época, o navio era fundamental para os seres humanos que nela viviam. Escolhemos um navio típico da época e o colocamos numa paisagem cheia de rochas, penhascos, algo muito perigoso para um navio de grande porte atravessar. Não existe nenhuma visão de mar aberto que indica para onde o navio segue. O arlequim está logo abaixo da bandeira que mostra o logo do Lacrimosa e ele é muito pequeno para ser visto no navio, e é uma espécie de capitão do navio. O álbum todo reporta o atravessar territórios de um desenvolvimento pessoal e emocional.

      Roadie Crew: No Elodia você compôs a música “Sanctus”, e agora, em Echos, “Kyrie”. Ambas tendo títulos idênticos a atos de um Requiem (assim como o próprio nome Lacrimosa), qual é o verdadeiro significado dessas músicas e títulos para o seu som?
      Tilo: Como você disse, o nome “Lacrimosa” é inspirado na parte homônima de um Requiem. Desta vez resolvi dar o título “Kyrie” a composição porque descreve em apenas uma palavra o que eu gostaria de expressar com a música. Neste contexto quis dar um sentido de que devemos estar atentos a nós mesmos. É o tipo de sentimento que eu gostaria de ter como abertura, para que o ouvinte realmente possa entrar na atmosfera que todo o álbum cria. Eu sempre fui muito influenciado por composições antigas, de Mozart ou Verdi, autores de dois famosos Requiem. Eu sempre estive muito conectado a eles e foram fontes de inspiração para mim.

      Roadie Crew: O meu ato favorito do Requiem de Mozart é o “Confutatis”, qual é o seu? Talvez o “Lacrimosa”?
      Tilo: Exatamente! (risos)
      O meu favorito é o “Lacrimosa” mas devo confessar que o “Confutatis” é realmente muito impressionante. Gosto muito.

      Roadie Crew: No primeiro álbum, Angst, você compôs uma música chamada “Requiem”. Você tem a intenção de, algum dia, compor um Requiem completo voltado para a música sonora, com ênfase na Música Clássica, como acontece no estilo do Lacrimosa?
      Tilo: Boa pergunta! (risos)
      Quem sabe… Já compus tantas partes de um Requiem! (risos)
      Não tenho certeza se quero compor um Requiem completo. Talves eu pudesse colocar todas as músicas, que compus como Requiem, juntas num grande show, acho que funcionaram bem ao vivo. Não sei o que farei a este respeito, mas até agora não tenho planos para compor um Requiem completo.

      Roadie Crew: As letras de Echos seguem uma lógica emocional, mas não é um álbum conceitual comum. Explique-nos esta conexão existente entre as músicas.
      Tilo: De fato Echos não foi planejado para ser um álbum conceitual, ou nada parecido. Eu escrevi este álbum num curto período de tempo e ele representa uma emoção e um período de minha vida. Na época eu não havia percebido que as músicas estavam conectadas umas as outras, e isso só foi acontecer quando entrei em estúdio. À medida que as músicas eram gravadas eu ia percebendo como elas estavam muito conectadas. Não foi planejado nada, e foi um tipo de “erro” o fato de elas estarem conectadas e contando uma espécie de história! (risos).

      Roadie Crew: Acho que em algumas músicas de Echos você explorou influências eletrônicas mais que anteriormente. O que você acha disso?
      Tilo: Sim, definitivamente concordo!
      Decidi fazer assim porque acho muito interessante misturar diferentes influências. Por exemplo, uso instrumentos como Viola de Gamba, presente na última música, ou Cembalo (cravo) em Malina, que são típicos das épocas Barroca e Renascentista. Uso também Orquestras Sinfônicas, do período das músicas Clássica e Romântica. Dos mais contemporâneos temos o Melotron, instrumento da década de 70 e 60, e os tradicionais bateria, baixo e guitarra. E além de todos esses, temos ainda a combinação com loops eletrônicos, que se transformam em coisas fascinantes quando colocados ao lado de todos os outros. Funcionam todos juntos de forma impressionante. Por exemplo, falando sobre a Malina, se você tirar o Cembalo a música não funcionará mais, o mesmo aconteceria se tirássemos a guitarra ou a bateria. Isso quer dizer que neste caso os instrumentos antigos necessitam dos novos, e vice- versa. O mesmo pode ser dito a respeito dos loops eletrônicos usados no álbum. Acho muito interessante poder utilizar todos esses instrumentos juntos em uma só música. Colocar meus sentimentos em instrumentos de épocas diferentes, trabalhando juntos, me deixa fascinado.

      Roadie Crew: Realmente Malina é uma música muito interessante. Apesar de toda a variedade presente nela, é impossível não notar o grande destaque da aura Barroco, proporcionado pelo cravo e cordas. Vocês usaram um cravo real ou apenas samplers nas gravações?
      Tilo: Samplers. Absolutamente a aura Barroca é predominante, e isso é muito interessante, pois fico fascinado por ter uma música que é voltada para o Barroco e, ao mesmo tempo, é uma das mais fortes, mais pesadas, de todo o álbum. Ela combina os dois.

      Roadie Crew: A última música, Die Schreie sind Verstummt – Requiem Für Drei Gamben Und Klavier, é muito melancólica, triste. Conte-nos o significado da letra em todo o contexto e o motivo de possuir “Requiem” no subtítulo.
      Tilo: Em termos de letras, essa música pode ser considerada um pequeno Requiem, pois finaliza algo. O que é utilizado para o fim de uma vida humana, pode ser também ser o fim de uma ideia, o fim de algo que você procura, tenta alcançar, mas percebe que está morrendo lentamente, se perdendo.

      Roadie Crew: Eu sei que você tem a sua própria gravadora, a Hall Of Sermon. Porém, a Nuclear Blast tem sido responsável pela distribuição, em alguns países, de diversos lançamentos do Lacrimosa. Como esta parceria tem funcionado?
      Tilo: É uma parceria muito boa. Quando lancei o primeiro álbum do Lacrimosa, a Nuclear Blast me ajudou muito na distribuição e, através dos anos seguintes, trabalhávamos ora juntos ora próximos e ora separados. Agora Anne Nurmi e eu decidimos nos concentrar mais no Lacrimosa e menos no trabalho com a gravadora. Achamos que seria sábia a decisão de licenciar os nossos álbuns, em alguns países, para gravadoras como a Nuclear Blast. Eles ficam com a parte de distribuição e promoção, enquanto nós fazemos o trabalho artístico. Nós finalizamos o produto, entregamos para eles e podemos voltar a nos concentrar em novas músicas.

      Roadie Crew: Falando um pouco sobre o passado, você começou a compor bem jovem, quanto tinha mais ou menos 17 anos. Conte-nos um pouco a respeito de suas primeiras composições que acabaram resultando na sonoridade do Lacrimosa.
      Tilo: Eu costumava escrever muitas letras, poemas e pequenas histórias. Um dia percebi que eu precisava de uma nova dimensão, que as palavras sozinhas não me traziam mais a satisfação plena. Então sentei ao piano com a letra de Seele In Not (presente no primeiro demo Clamor, de 1990, e no álbum de estreia Angst, de 1991) e comecei a compor uma música. Depois que estava pronta, fui para um estúdio e gravei-a. De fato esta foi a primeira música que compus, a primeira que gravei e, também, a primeira do Lacrimosa. Eu não fiz nenhum outro tipo de música antes do Lacrimosa e a primeira música ouvida no Angst foi a primeira que compus!

      Roadie Crew: Qual foi a sua educação musical?
      Tilo: Comecei tocando trompete, mas com uma educação musical mais voltada para o Jazz.

      Roadie Crew: Anne Nurmi fazia parte da banda Two Witches, mas em 1994 ela entrou no Lacrimosa e, ao seu lado, se tornou parte fundamental para o Lacrimosa. O que Anne representa para você e para a banda?
      Tilo: Quando comecei o Lacrimosa eu apenas procurava por uma voz feminina que pudesse interpretar na minha música os sentimentos e emoções que eu não fosse capaz de produzir 100% sozinho. Trabalhei com muitas vocalistas, mas nunca ficava totalmente satisfeito. Quando o Lacrimosa fez uma turnê ao lado do Two Witches, eu percebi que Anne Nurmi cantava da mesma forma que eu, com sintonia, e que tínhamos muitas coisas em comum. Então a convidei para se juntar a mim e, desde então, o Lacrimosa é um projeto de duas pessoas, e todos os outros que participam dos nossos álbuns e turnês são parte da família Lacrimosa, mas não são membros da banda. Acho que um verdadeiro membro da banda é aquele que compõe músicas para ela e, no Lacrimosa, além de mim, independente dos músicos que saem em turnê ou gravam álbuns conosco, Anne a única pessoa que participa do processo de composição. Por isso Anne é a única integrante da banda, além de mim.

      Roadie Crew: Desde quando começou a ter orquestras reais tocando em seus álbuns de estúdio, você já planejou realizar e gravar um show do Lacrimosa ao lado de uma orquestra para um lançamento em CD ou DVD?
      Tilo: Eu tenho o desejo, mas não planos concretos para que isso aconteça. Quem sabe algum dia…

      Roadie Crew: Você tem uma maneira muito particular de cantar, e isso é um dos grandes diferenciais do som do Lacrimosa. Não sei porque, mas quando ouço alguns momentos de suas linhas vocais, me vem à cabeça David Gilmor (Pink Floyd). Seria David uma real influência para você?
      Tilo: Interessante, ninguém nunca havia me falado isso! Sou um grande fã de Pink Floyd, mas devo confessar que prefiro a banda com Roger Waters no vocal! (risos)
      Nunca imaginei que alguém compararia a minha voz com a do David Gilmor, mas acho que é algo muito interessante, pois ele tem uma voz muito bonita e relaxante. Quando o ouço cantando fico muito relaxado e me sinto cada vez mais dentro da música. Gosto muito!

      Roadie Crew: Echos foi lançado a 27 de janeiro na Europa. Já existem planos para uma nova turnê?
      Tilo: Infelizmente nós não sairemos em turnê por enquanto, pois nos últimos anos ficamos constantemente compondo ou em estúdio ou fazendo turnês, sem nenhuma pausa, e agora precisamos descansar um pouco.

      Roadie Crew: Em 2001 foi anunciada que a turnê sul-americana do Lacrimosa passaria pelo Brasil, coisa que infelizmente acabou não acontecendo. Apesar de não existirem planos para uma turnê por agora, você acha que ainda em 2003 os fãs brasileiros terão a finalmente oportunidade de ver o Lacrimosa ao vivo?
      Tilo: Acho que, apesar de ainda estarmos iniciando do ano, não faremos nenhuma turnê em 2003. Só voltaremos a fazer uma turnê pela América do Sul em 2004 ou 2005! (risos)
      Mas quando formos, faremos de tudo para passar pelo Brasil. Não posso dar uma garantia de 100%, mas Anne Nurmi e eu temos muita vontade de tocar no Brasil.

      Roadie Crew: Vocês têm muitos fãs brasileiros!
      Tilo: Sim! E nós queremos conhecê-los! É muito importante para nós o contato com o público quando estamos em cima do palco, pois isso nos traz muita inspiração. Nós estamos muito ansiosos para conhecer os nossos fãs brasileiros e vê-los participando conosco de nosso show.

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