2007 – Tilo – Programa de rádio de Belgrado – Croácia

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      A Seguinte entrevista foi concedida por Tilo Wolff a um programa de rádio de belgrado, Croácia, durante a turnê européia da banda em maio de 2007. Tilo fala da relação com os fãs, a atual cena gótica e seus novos valores, e da influência da religião na música da banda. Considerando que Tilo raramente dá entrevistas, é um milagre que tenha aceitado falar sobre assuntos tão diversos e pessoais.
      – Como têm sido a recepção ao lançamento de Lichtjahre nesta turnê ? Vocês têm exibido trechos dos vídeos antes dos show certo ?
      TW – Eu não tenho palavras para agradecer suficientemente nosso público. Eu sei que acaba sendo meio clichê, pois toda banda diz isso. Mas nossas fãs são incomparáveis. Temos de levar em consideração que a maioria das pessoas não entende as letras, mesmo aquelas com um alemão razoável, existe sempre duplas ou triplas interpretações para nossas letras e nossa forma de expressar a melodia do Lacrimosa.
      – Vocês têm tocado quase todas as músicas do Lichtgestalt ao vivo não ?
      TW – Isso pode variar de show para show. Tocar o mesmo set list toda a noite pode ficar meio estressante e até mesmo enfadonho. Mas quando temos um material que funciona tão bem ao vivo, é impossível não fazer o máximo de uso delas.
      – Podemos afirmar que você perdeu um pouco o preconceito contra festivais ? Há várias datas marcadas para o Lacrimosa em festivais em sua agenda.
      TW – Não é exatamente preconceito. Tivemos sérios problemas com equipamentos mal equalizados; falta de tempo hábil para passagem de som. E consideremos que nossa música não é Punk Rock que pode ser tocado de qualquer jeito em qualquer lugar e em qualquer hora. Quando tocamos em teatros, a coisa é diferente pois os nossos roadies são fantásticos e sabem exatamente o que queremos e como queremos. Em festivais, raramente somos considerados prioridades. Não quero regalias, porém, exijo respeito e profissionalismo daqueles que nos contratam pois sempre damos o melhor de nós em cima do palco. Faça sol ou faça chuva.
      – Vocês têm exibido o Konzert-Dokumentation und das Live-Album Lichtjahre antes dos shows. Como têm sido a recepção dos fãs a este trabalho ?
      TW – Magnífico. As vezes fico dando umas espiadelas na platéia e fico emocionado. As pessoas realmente entendem do que se trata. É Ótimo. É gratificante quando tudo aquilo que pensamos no estúdio, no período pré-estúdio, ou quando componho em turnê, ver os fãs realmente sendo introduzidos naquilo que pensei como música, como arte. Mas principalmente, como compreensão do sentimento e comportamento humano.
      – A música do Lacrimosa ficou menos depressiva através dos anos não ? Se compararmos com os primeiros discos.
      TW – Respeito sua opinião mas não concordo. É como ler más notícias nos jornais e não sermos afetados por elas. Não vivemos tempos de paz. Nem aqui na Europa nem em lugar nenhum. Sou afetado por tudo aquilo que leio, sinto e ouço. Apenas mudei a forma de abordar tais aspectos. Sinto que posso expressar esse sentimento universal de desesperança, medo e reclusão de outras formas. Mas sempre houve um fio de esperança em nossa música, em nossa mensagem.
      – Como enxerga religião hoje em dia ? Se acha uma pessoa religiosa ?
      TW – Não sou religioso. Não mais, mas tenho uma fé profunda. Fui criado na religião mas agora, é política pura hoje em dia, nada mais. A minha visão de fé hoje é completamente diferente do que era alguns anos atrás. Mas cantei num coral de igreja e isso era maravilhoso para mim. Pena que aquilo tudo parece ter se perdido na política.
      – A faixa Hohelied der Liebe é um trecho da bíblia não é ?
      TW – Sim. Algo especial para mim. A bíblia é um dos meus livros favoritos. Talvez o favorito de todos. A bíblia tem uma excepcional influência nas letras da banda.
      Observação: Como sempre, Tilo torna-se quase monossilábico quando tocamos no assunto religião
      – Como explica o sucesso do Lacrimosa fora da Europa ?
      TW – Não procuro explicação para isso. É ignorância sobre certos aspectos. Ouvi de um jornalista na Bulgária: Como você lida com os latinos ? Eles são muito emocionais e bem pouco racionais não é verdade ? Recebo isto como uma ofensa. Terrível que no século XXI ainda tenhamos gente que pensa desta forma estúpida e irresponsável. E justamente de povos aqui do leste europeu que ainda sofre com tanta discriminação da Europa Ocidental.
      O que é racionalidade no ponto de vista dele ? Acho que povos de origem latinas como hispânicos, espanhóis, italianos e franceses têm mais facilidade em expressar e lidar com seus sentimentos. Eles não têm rédeas controlando suas emoções o tempo todo. Acho isso mágico. Quando estivemos no Brasil e no Chile pela primeira vez, tive uma sensação estranha; a reação e comportamento deles era muito parecida com a que recebemos na Alemanha ou na Escandinávia.
      A participação deles também era muito intensa nos shows, mas muito mais parecida com as nossas. Estava acostumado a ver a reação maravilhosamente insana em DVD’s de outras bandas e achei que teria o mesmo, mas eles nos surpreenderam de outras forma: cantando todas as nossas músicas num alemão excelente e bastante sentimental. Mesmo que não entendessem tudo o que era dito, uma maneira quase espiritual de se comunicar conosco. Gosto dessa diversificação de aspectos sentimentais em relação ao Lacrimosa. Nossa arte não foi e não é feita em vão.
      – Como lida com os boatos de que Anne poderia deixar o Lacrimosa e seguir carreira solo ?
      TW – Acho que o Lacrimosa é a carreira solo dela. Ela têm liberdade para exercer toda a maravilhosa criatividade dela dentro desta banda. Anne não é tão chegada a entrevistas, mas eu também não sou. É muito complicado ter de explicar cada mínimo detalhe de um disco para um jornalista ignorante que foi destacado para sua revista sem ter ao menos a menor noção de como funciona e o que significa nossa música. Mas isso não é culpa deles e sim de seus editores-chefe não é mesmo ?
      Anne não vai deixar o Lacrimosa porquê o Lacrimosa é a vida dela, assim como é a minha. A gravidez da Anne na época levou idiotas a publicar coisas estúpidas como estas.
      – E o Snakeskin ? Como fica nesse jogo ?
      TW – Tenho composto material mas não tenho me sentido muito a vontade com esse material. Preciso burilar ele melhor, descobrir seus pontos fracos e transformá-los em pontos fortes. É mais pesado e inconsequente do que o trabalho regular do Lacrimosa. Tenho sentimentos confusos em relação ao Snakeskin para dizer a verdade. Mas o Canta-tronic têm sido uma grata surpresa devo dizer.
      – O que têm ouvido recentemente ?
      TW – Tenho ouvido bastante nossos próprios discos. Isso não é algo que faço com muita frequência. Aliás, nunca tinha ouvido tanto, testado tanto meu trabalho. Acho que é um recall. Uma forma de redescobrir pérolas que ficaram pelo caminho e recuperá-las. Acho que por bastante tempo acabei relegando boas músicas nossas para um segundo ou terceiro plano. É hora de redescobrí-las e encará-las de frente para o prosseguimento do Lacrimosa.
      – O metal voltou ao Lacrimosa recentemente não ?
      TW – Ele nunca esteve de fora. Mais uma vez é a nossa abordagem musical que acaba passando despercebida do modo que ele é tratado normalmente. O metal tradicional jamais me atraiu: bandas como Helloween, Grave Digger entre outras do típico metal alemão… ( interrompido pelo locutor )
      – Mas o Rammstein não é hoje o típico metal alemão ?
      TW – Acho que não. Acho que não. Tenho certeza que não. Gosto bastante do Mutter e acho ótimas canções também no Reise, Reise mas não identifico muito do Lacrimosa na banda de Till Lindemann. Mas acho-o um grande performer. Um grande artista e também seus companheiros.
      – Gostaria de ter sua opinião, seu parecer sobre bandas que citam o Lacrimosa como grande influência. Pode ser ?
      TW – Claro ! Por que não ? ( risos )
      – Birthday Massacre ?
      TW – Não tenho uma opinião formada sobre eles. Mas é bom saber que tantas bandas citam o Lacrimosa como influência. É como um pagamento por algo impossível de ser pago. Gratificante. Mas voltando ao BM, não conheço o suficiente para ter uma opinião formada sobre a banda. Infelizmente, quem sabe no futuro não os ouça mais atentamente.
      -Evanescence ?
      TW – É a minha favorita entre aquelas que nos citam como influência. Gosto da abordagem de Amy Lee. Sei que ela teve momentos muito difíceis recentemente e passou isso para sua música de forma brilhante. Conseguiu desabafar sem ser piegas. Ela é muito talentosa embora digam que ela seja mera produção do mainstream americano para combater o Gothic Metal europeu. O que não é mentira, mas ela consegue superar isso muito bem e mostrar todo o seu talento. Gosto particularmente da melodia vampiresca do The Open Door.
      – Lacuna Coil ?
      TW – Não vejo nada do Lacrimosa no Lacuna Coil. Absolutamente nada.
      – Epica ?
      TW – Tampouco. A abordagem é diferente. Não basta usar música clássica e orquestrações para soar idêntico. Acho o Epica uma banda de grande valor e que têm um futuro brilhante pela frente. Simone têm uma voz deslumbrante e que muitas vezes me lembra Anne na interpretação melancólica quando executa canções desesperadoras. É convincente.
      – O que acha de bandas como o Lacuna Coil e H.I.M que adaptaram seu som para conquistar o mercado americano ?
      TW – Difícil opinar sobre isso sem parecer crítico. Não sou de fugir de debates mas esse é muito complicado. Até onde podemos afirmar que eles se venderam para os Estados Unidos e naufragaram ?
      – Bem. Os fãs europeus e de longa data detestaram seus trabalhos recentes: Dark Light e Karmacode.
      TW – Eu não sei. Não tenho uma opinião formada sobre isso. O U2 adaptou seu som à América e funcionou. Isso sem ter resultados prejudiciais ao resto de seus fãs.
      – O Lacrimosa sentaria para ouvir uma proposta de uma gravadora para brilhar nos Estados Unidos ?
      TW – Jamais. Fora de cogitação.
      – O que podemos esperar dos novos trabalhos do Lacrimosa ?
      TW – Muita disposição em criar novos e grandes trabalhos. Poucas vezes estive tão animado com o andamento de processos de gravação. Devemos tirar um pequeno descanso de não mais que dois meses e voltaremos ao estúdio com boa parte da pré-produção já finalizada. Não há sobras de estúdios de trabalhos anteriores. Não acho que o novo trabalho, pelo menos até o que compomos até agora seja parecido com qualquer coisa que já tenhamos feito no passado.
      – Isso é um clichê não é ?
      TW – ( gargalhadas de Tilo ) Pode ser. ( Mais risos )
      – Que tipo de reação de um fã te irrita ? Qual você considera desrespeitosa ?
      Nunca tivemos problemas com isso. Fomos agraciados com amigos e fãs maravilhosos por toda a carreira da banda. Os fãs jamais foram inconvenientes ou incompreensíveis conosco. Mesmo quando tivemos de adiar shows por problemas de saúde, ou algum concerto que por razões técnicas ficou aquém do esperado.
      Mas houve um episódio bastante engraçado quando um casal de fãs de Gotemburgo na Suécia, nos entregou um Demo CD contendo canções deles que em suas opiniões, encaixavam-se perfeitamente no estilo Lacrimosa. Achei interessantíssimo o som do casal e aconselhei que eles enviassem a demo para a Hall of Sermon. Porém, esta demo jamais chegou em minhas mãos e nunca mais tive notícias deles.
      – Que estranho !
      TW – ( risos ) Coisas estranhas sempre acontecem no Lacrimosa. Mas se aparecer, certamente eles teriam grandes chances de obter um contrato para gravação de um disco. Eram bem talentosos.
      – Como os músicos de apoio da banda, lidam com uma certa obscuridade deles em relação à Anne e você ? Vocês são a imagem do Lacrimosa.
      TW – São músicos profissionais que só se importam com a música. Não há vaidade nenhuma. O Lacrimosa não é um outdoor ambulante nem de imagens nem de modelos. Só a música interessa.

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